Satisfação no Trabalho vs Ganhar Dinheiro para Krishna
Por Romapada Swami*
Pergunta : Como chefes de família, nós não temos que abandonar nosso trabalho e sim mudar a nossa consciência em fazê-lo. Uma maneira de fazer isso é doar uma parte da renda proveniente do trabalho para o serviço ao Senhor Sri Krishna e usar o resto para manter e criar a família em consciência de Krishna. Agora, eu também tenho desejo de trabalhar porque isso me dá satisfação profissional e não apenas frutos na forma de dinheiro. Se o nível mais elevado de motivação para a entrega dos frutos da ação, independentemente do trabalho que eu faço, já está sendo atendido, níveis mais baixos de motivação, tais como satisfação profissional, importariam? Eu não tenho a realização do amor por Krishna para me motivar a fazer um trabalho que é menos satisfatório. Eu faço isso como uma responsabilidade para com a minha família. Você poderia, por favor, lançar alguma luz sobre este assunto?
Romapada Swami: Dos ensinamentos do Senhor Krishna no Bhagavad-gita, nós certamente aprendemos a importância do cumprimento do dever com o desapego dos resultados. Isso é chamado de niskama-karma-yoga. Além disso, Krishna também nos ensina como é nosso dever ser determinado em primeiro lugar: dever prescrito é baseado na guna e no karma do indivíduo ou seja, as qualidades que ele adquiriu a partir dos modos da natureza material e sua tendência para um trabalho particular.
Poderíamos dizer que o engajamento no trabalho nascido da nossa própria natureza da pessoa, produz uma maior "satisfação profissional". Por exemplo, alguém com inclinação brahmínica estaria mais satisfeito na posição de um professor em vez de uma ocupação vaisya, e, inversamente, um empresário, por natureza, iria sentir-se inquieto na posição de um sacerdote. Arjuna, por exemplo, foi lutar como um ksatriya, porque essa era a sua propensão natural. Quando considerou desistir da luta e ganhar seu sustento por meio da mendicidade e da prática da não-violência, o Senhor repreendeu-o e instruiu-o: "É melhor se engajar de forma imperfeita na sua própria ocupação do que perfeitamente na ocupação do outro” (Bg 18,47). “Seguir o caminho de outrem é perigoso." (Bg 3.35). Assim, satisfação profissional, ou mais precisamente, consideração da propensão natural de uma pessoa para o trabalho, não é secundário ou sem importância na escolha do dever ocupacional de alguém e sim, é um fator decisivo primário, e geralmente é prescrito pelos superiores espirituais, que conhecem a natureza do estudante.
Toda a instituição varnashrama dharma diz respeito a conciliar nossas tendências naturais com o serviço ao Senhor e aumentar gradualmente o nosso apego a Ele e diminuir proporcionalmente o espírito de "eu sou o proprietário, eu sou o desfrutador." Isso inclui não apenas o afastamento gradual dos frutos do trabalho, mas também a sensação de prazer independente de Krishna. Nos estágios mais elevados de niskama-karma-yoga, a pessoa não oferece apenas os frutos/ resultados de seu trabalho, mas também o próprio trabalho é dedicado ao prazer de Krishna. Tal pessoa não está interessada em sua própria satisfação, mas vai fazer qualquer trabalho que serve melhor o interesse de Krishna. Como você honestamente indicou, nós podemos não estar nesta fase ainda e, portanto, devemos nos engajar de acordo com nossa natureza seguindo os códigos do varnashrama dharma. Pela prática do karma yoga em combinação com nossas práticas devocionais diárias de ouvir, cantar, associar-se com os devotos e assim por diante, nós seremos elevados para o estágio de real apego a Krishna.
Por fim, leia atentamente o significado da Brahma Samhita Texto 61, a partir do qual a seguinte citação é tomada: "Brahma acalenta o desejo de criação em seu coração. Se esse desejo criativo é praticado pela junção do mesmo com a meditação em obedecer o comando do Senhor Supremo, então esta será uma função subsidiária espiritual (gauna-dharma) que está sendo útil para o crescimento da disposição para o serviço da Divindade, em razão de sua característica de buscar a proteção de Deus."
Pergunta: É melhor manter um trabalho que dá mais dinheiro (em última análise, mais dinheiro para Krishna) e menos satisfação profissional? Ou é melhor aceitar um emprego que dá menos dinheiro (em última análise, menos dinheiro para Krishna) e mais satisfação profissional? Satisfação no trabalho proporciona melhor produtividade, portanto, provavelmente melhores frutos e eu posso servir Krishna melhor dessa forma. Mas se eu sei que eu gosto de certos trabalhos melhores e que me dão mais satisfação profissional, porém menos dinheiro, o que é melhor eu fazer?
Romapada Swami: No que diz respeito a niskama-karma, isso não é medido pela quantidade do que é oferecido e sim pela qualidade de devoção com que a oferta é feita, bem como o espírito de desapego que se cultiva através deste ato. O princípio é cumprir o dever pelo próprio dever e tornar-se desapegado do sentimento de propriedade. Um exemplo ideal nesse sentido foi um grande devoto do Senhor Caitanya, chamado Kholaveca Sridhar, que ganhava seu sustento com a venda de folhas de bananeira. Ele duramente ganhava poucos paisas (centavos de rúpia) por dia, no entanto, ele doava metade do que ganhava para a adoração de Vishnu e da mãe Ganges no final do dia. Embora ele vivesse em extrema pobreza, ele estava completamente satisfeito em seu coração e, por sua devoção humilde, ele “adquiriu” o Senhor, que lhe concedeu devoção pura. Krishna se recusou a aceitar a hospitalidade real, palácios e presentes oferecidos pelo ardiloso e astuto Duryodhana, mas Ele estava plenamente satisfeito com a refeição humilde oferecida por Vidura.
Em outras palavras, as necessidades econômicas da família podem certamente ser uma consideração válida para decidir as escolhas ocupacionais de cada um, mas é desnecessário, e poderia mesmo revelar-se prejudicial à própria devoção, sobre- esforçar-se, além de seus recursos, em uma tentativa de oferecer em maior quantidade para Krishna. É claro que, de acordo com as possibilidades da pessoa, ela deve querer oferecer o máximo e o melhor para o Senhor como expressão de sua devoção, mas, no final, o Senhor quer apenas o nosso amor e devoção.
* Sua santidade Romapada Swami ( ACBSP) conheceu a consciência de Krishna quando era um estudante universitário há mais de 37 anos e hoje prega a mensagem da verdadeira devoção por diversas partes do mundo. Serviu o movimento durante anos como comissário do GBC da ISKCON na América do Norte e acredita fortemente na educação para todos no processo de serviço devocional. Ele frequentemente faz apresentações e ministra palestras e seminários em instituições educacionais como Massachusetts Institute of Technology, Stanford University, Harvad University, University of Illinois, Urbana-Champaign, Penn State University, Indian Institute of Technology-Delhi, BITS -Pilani, e em muitos renomados escritórios de empresas como a Microsoft, Lucent Technologies, só para citar alguns.
Fonte: http://www.romapadaswami.com/inquiries
Tradução: Vaisnava Krpa devi dasi (HDG)